Confesso!

21:30

Aviso desde já que este post é bastante pessoal e negativo... Quem não o quiser ler é livre de não o fazer. Não o escrevi para procurar compaixão ou simpatia mas escrevi-o como parte de um processo pelo qual estou a passar. É um abrir o jogo ao mundo e até, abrir o jogo a mim mesma.


"...it was a dream to have children, particularly a daughter. But some dreams never come true. In order to keep moving, you have to gently send them off into space and move onto new dreams."

(tradução livre: "...era um sonho ter filhos, em particular uma filha. Mas alguns sonhos nunca se realizam. De forma a continuar, temos de gentilmente mandar os sonhos para o espaço e seguir para novos sonhos.")

Li isto e desatei a chorar! Confesso que sinto-me uma mentirosa, já que desde sempre que disse que não queria filhos e há um ano que as coisas mudaram e o meu relógio biológico está os pulos, frenético!
A frase foi escrita e faz parte de uma série de ilustrações feitas por uma artista com deficiência física (vejam mais aqui: https://www.boredpanda.com/illustrations-orphan-disease-hibm-kam-redlawsk/), com a qual eu me identifiquei por causa da minha gaguez e não me considero normal por isso.
Não me considero deficiente mas sempre me vi diferente, negativamente se é que posso dizer... Admito que tenho fases que tenho imensas dificuldades em me aceitar tal como sou, no geral, como pessoa, como mulher, como humana...

Este novo sentimento de querer ser mãe, revelou-se acutilante! A melhor descrição que consigo fazer deste sentimento é: parece que tenho um machado cravado no peito, constantemente. Inclusive consigo vê-lo em mim, sempre que me olho ao espelho... E sinto-o!

Inicialmente consegui lidar com este sentimento / desejo e camuflei-o debaixo de trabalho, de atividades, etc. No entanto a dada altura, começou a ser insuportável, de tal maneira que não consigo ver casais, bebés ou grávidas sem sentir uma vontade imensa de gritar, de chorar...
Eu sei que afasto as pessoas, não consigo manter uma relação amorosa por muito tempo e possivelmente nunca terei filhos biológicos meus...

No final de agosto decidi que estava na altura de procurar ajuda e comecei a fazer psicoterapia. A primeira sessão foi horrível e acho que nunca chorei tanto na minha vida nem nunca tinha admitido tantos erros, falhas minhas ou traumas antes e apesar de ter me feito relativamente bem nos dias seguintes, obviamente senti-me vulnerável por saber que alguém no mundo sabia tanto sobre mim.

Mas também foi um libertar e consegui arrumar certos assuntos na minha cabeça e passei à ação. Não gosto de procrastinar e prefiro sempre ser a que dá o passo, a que age e faz por acontecer. Então comecei por me desligar de algumas pessoas, removi amizades, deixei de seguir pessoas ou artistas no instagram e no dia em que fiz isso, decidi que iria marcar tatuagem com o Sad Amish e não perdi tempo... enviei email. Já disse que sou proativa?

Mas a verdade é que no geral, sinto que menti a mim mesma durante 38 anos sobre o que eu queria e desejava! E apesar de agora saber que simplesmente racionalizei tudo e tomei uma decisão consciente e ponderada tendo em conta toda a minha vivência, hoje em dia olho para trás e penso nas oportunidades que tive, que deixei escapar e sinto-me horrorosa, sinto-me mal, sinto-me estúpida! E tenho uma vontade de chorar constante que ninguém imagina...
Quero conseguir perdoar-me por todas as boas e más decisões que tomei durante estes 38 anos e quero conseguir seguir em frente.
Quero conseguir aceitar-me com todos os meus defeitos, feitios e manias parvas que (sei que) tenho. Mas sabem que é difícil, especialmente quando passas a vida a ouvir que és estranha, que és isto ou aquilo e aos poucos parece que a ideia que o mundo tem de ti tem de estar certa e talvez tu é que estás errada... Afinal, como é que tanta gente pode estar errada?

No fundo gostava de voltar ao tempo em que este desejo não existia em mim! Ao tempo em que me sentia feliz e contente por estar solteira e sem filhos, mas infelizmente isso não é possível. E tenho uma consciência enorme da minha pessoa e da minha presença no mundo. Como nunca tive antes...

A esta altura, os que conseguiram chegar até aqui, vão pensar mas porque não adotas uma criança?
Não sei se terei força mental, física e monetária para cuidar de uma criança sozinha, mas sim já pensei nisso. No entanto, queria ter a oportunidade de criar uma família em conjunto com outra pessoa. Talvez um dia mais tarde, adote mas neste momento isso não está em cima da mesa.

Para quem segue o meu blog há muito tempo sabe que este espaço sempre foi muito positivo, sempre partilhei música, arte, inspiração e criatividade, mas aos poucos ele cresceu comigo e faz parte de mim e partilho aqui muito mais do que inicialmente pensei que o iria fazer...
Quem me segue há muito tempo sabe que nunca partilhei nada tão pessoal e há pouco tempo escrevi o primeiro post mais honesto e sincero que alguma vez tinha feito, até hoje... Passado duas semanas, eliminei aquele post por sentir-me vulnerável, já que gosto de pensar que sou feito de aço e nada me afecta... hum tonta! Ninguém é assim, bem sei. Todos nós temos alturas más, alturas da vida boas... Mas nunca partilhamos as negativas. Eu quero ser diferente e mostrar que não faz mal haver períodos maus! É normal e as redes sociais tendem a querer parecer que existe uma felicidade emergente que ninguém a toca mas toda a gente navega nela. Ninguém está sempre feliz, é impossível! Eu quero mostrar que não há que ter medo em mostrar infelicidade, em ser vulnerável e admitir publicamente que erramos.

Obrigada a quem leu o post até ao fim e não, não peço comentários!
Fiquem descansados que não haverá muitos mais posts desta natureza, pois raramente vou abaixo e facilmente levanto-me após uma 'queda'!
Bem sei que todo este post parece super negativo, mas também sei que neste momento estou nesta fase menos alegre por todos estes (e mais alguns) motivos, mas acho que este exorcizar da alma é bom para mim. Quem não gostou, pode 'desseguir' o blog, o meu facebook e instagram.

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